Saia da área, RH!
Esse é o alerta do guru americano Dave Ulrich. Só é possível entregar resultados para o negócio quando os desafios do RH estiverem além do departamento
Ele tem mais de 20 anos de experiência em recursos humanos. Já
publicou mais de 100 artigos e escreveu 15 livros sobre o assunto. Falou
e ensinou sobre RH para aproximadamente 200 clientes e empresas de
todos os segmentos. É considerado um dos maiores especialistas da área
no meio acadêmico, além de guru número 1 dos executivos que lidam com
gestão de pessoas no mundo. Esse é o americano Dave Ulrich, professor de
negócios da Universidade de Michigan e sócio do Grupo RBL, consultoria
que ajuda líderes a entregar mais resultados para suas empresas. Ulrich
tem programada uma visita ao Brasil em junho para debater sobre o atual
papel do executivo de recursos humanos e como ele deve definitivamente
entender de negócios. Os profissionais de RH insistem que seus maiores
desafios são treinar a liderança e atrair pessoas, disse Ulrich durante
esta entrevista. E eu insisto que seus desafios deveriam ser os da
empresa, e não os da área, ou seja, fazer dinheiro, servir bem os
clientes e aumentar o preço das ações. Foi tratando sobre desafios como
esses, angústia e deveres do RH, que Ulrich respondeu às perguntas da
VOCÊ RH, de seu escritório, em Michigan, nos Estados Unidos. Veja a
seguir.
Eu tive a oportunidade de entrevistá-lo há cinco anos para
uma reportagem sobre RH estratégico. De lá para cá, o mundo corporativo
mudou um pouco. Velhos desafios se tornaram maiores, como a guerra de
talentos, a globalização e o avanço da tecnologia. Em sua opinião, o que
realmente se modificou no papel do executivo de recursos humanos nesse
curto período?
Não houve apenas uma mudança, e não somente em cinco anos, mas há
tendências que tornam o tema RH ainda mais significativo para o sucesso
do negócio:
A tecnologia tornou o mundo menor e mais conectado. E agora a base
não é somente da informação, mas da conexão. Tem se falado de
globalização há anos e atualmente ela é realidade em todos os segmentos.
O mundo está mudando em ritmos distintos. Há um crescimento enorme na
China, na Índia, no Brasil e na Rússia, e recessão ou declínio em outras
partes. Os mercados financeiros estão obrigando à eficiência e
aumentando o foco em ativos intangíveis. O tratamento do funcionário
passou a ser individualizado. Tudo isso contribui com as mudanças.
Organizações que se adaptarem rapidamente irão vencer. As que não se
ajustarem vão ficar de fora do jogo. E as empresas mais propensas às
mudanças fazem isso justamente por meio de práticas e sistemas
excepcionais de recursos humanos.
Nesse cenário, há competências de RH que não são mais necessárias? E quais são as novas competências?
Acabamos de concluir uma pesquisa com 10 000 pessoas no mundo todo
sobre as competências necessárias para um profissional de RH ser
eficiente. A primeira característica é ser alguém engajado, que inspire
credibilidade. No passado, nós queríamos profissionais de RH que fossem
confiáveis, mas agora isso não é suficiente. Com as mudanças nos
negócios, esse executivo também precisa ser proativo e entender como
pode contribuir para o sucesso do negócio. Além disso, precisa ser um
organizador da mudança e da cultura da empresa e um arquiteto da
estratégia. Isso permite que ele faça as coisas acontecerem e entregue
bons resultados financeiros.
Hoje, qual é o papel do executivo de recursos humanos nas organizações?
Nós encontramos quatro atitudes que o executivo de RH deve apresentar: Coaching ajudar líderes a melhorar seu comportamento e seus resultados. Arquitetar preparar projetos para a mudança da organização. Facilitar gerenciar o processo para que as coisas aconteçam. Planejar e entregar implementar práticas de RH que efetuem a estratégia.
Há algo que esse profissional deveria saber e ainda não sabe?
Infelizmente ainda é entender do negócio. Em 20 anos de pesquisas
com o pessoal de RH percebemos que seu conhecimento médio do negócio não
aumentou de forma significativa. Isso é bastante desestimulante, porque
temos defendido essa tecla há muito tempo.
O que significa entender do negócio de uma forma prática?
Significa basicamente entender de finanças, de marketing e de
tecnologia. Conhecer como essas áreas impactam o negócio principal da
empresa.
Falando em visão de negócio, o RH parece ter dificuldade de
entender como os seus próprios resultados impactam no resultado total da
empresa. Por que isso acontece e como sair desse patamar?
O horizonte entre o que os profissionais de RH sabem e fazem e os
resultados do negócio está ficando mais claro. Organizações que tratam
bem as pessoas e constroem fortes habilidades conseguem atrair talentos,
atender bem os consumidores, aumentar o valor das ações e construir
responsabilidade social. O executivo de RH precisa entender que, se ele
mantiver o foco nas necessidades do cliente, do investidor e da
comunidade, vai ter mais sucesso do que aquele que mantém o foco apenas
nas práticas de RH. Eu geralmente começo minhas palestras com uma
pergunta para esses executivos: Hoje, qual o seu maior desafio no
trabalho?. Muito freqüentemente, a resposta tem a ver com práticas de RH
[recrutar melhor, criar programas de liderança e de remuneração etc.].
Eu insisto que os desafios do RH devem ser os desafios da empresa, ou
seja, fazer dinheiro, servir bem os consumidores, aumentar o preço das
ações. Quando o profissional de recursos humanos começar a pensar sobre
os desafios do todo, ele vai conseguir fazer uma conexão melhor entre
seu trabalho de curto prazo e os objetivos de longo prazo da empresa.
Durante 20 anos falando com e sobre RH, quais são as
principais dúvidas e angústias que o senhor percebe nesses executivos? O
senhor acha que vai ouvir as mesmas preocupações em sua palestra no
Brasil?
Como um bom funcionário, o profissional de RH quer fazer um trabalho
que ajude a empresa a obter sucesso. Às vezes, ele só vai conseguir
isso saindo da sua zona de conforto e fazendo coisas que ele não fazia
antes. Isso causa preocupação e angústia. Eu continuarei a sustentar
que, embora seja difícil no começo, esse profissional tem, sim, de se
transformar num ativista e tomar posições na empresa, para ajudar no
sucesso do negócio. Tenho esperança que, a cada dia, teremos mais e mais
pessoas assumindo esse desafio.
É comum no Brasil executivos de recursos humanos não se
sentirem confortáveis com as políticas importadas da matriz e a
conseqüente falta de poder local que esse modelo gera. Como eles podem
tomar posições e impactar os negócios nessa condição?
Ser proativo significa assumir uma posição. Mas essa posição precisa
ser lastreada por subsídios. Se um executivo estrangeiro sustenta que o
RH brasileiro faz algo que não contribui para o negócio, o brasileiro
deveria enfrentar essa determinação não batendo o pé , mas mostrando os
tais subsídios e provando que a visão do estrangeiro está equivocada.
No Brasil percebe-se que muitos jovens não desejam ir para a
área de recursos humanos, preferindo migrar para outros setores da
empresa. Isso causa um problema de sucessão no RH. Como tornar a área
mais atrativa?
Todas as áreas têm dificuldade em atrair os melhores talentos. Isso
não é diferente no RH. O que está acontecendo nesse setor é que muitos
profissionais estão sendo atraídos não apenas por gostar de pessoas, mas
também por entender a conexão entre pessoas e performance da
organização. À medida que isso se torna uma prática e a área seja mais
valorizada, o salário será aumentado e, conseqüentemente, mais pessoas
se sentirão interessadas e motivadas em vir para o RH.
Sucessão se transformou num grande problema para as
companhias, tornando-se um dos maiores desafios do RH atualmente. Como
garantir pessoas boas e preparadas para assumir posições estratégicas na
empresa como um todo?
A sucessão da liderança começa quando se tem claramente um processo
para definir as habilidades que os futuros líderes devem ter. Os
profissionais de RH podem facilitar esse processo, apontando e
discutindo quais conhecimentos e habilidades serão necessários para o
futuro. Dessas discussões surgirá o que chamamos de declaração do estilo
de liderança [veja o livro Leadership Brand, de Dave Ulrich e Norm
Smallwood em tradução livre: Estilo de Liderança]. Essa declaração
aponta quais serão as competências e habilidades necessárias no futuro.
Ou seja, o RH pode ajudar os líderes a identificar quais indivíduos em
suas equipes têm essas habilidades e desenvolvê- los com tarefas e
treinamento inovadores para que cresçam em seus trabalhos.
Na sua opinião, além de sucessão qual é o maior desafio do RH hoje?
Sucessão, em primeiro lugar. Depois, fazer as mudanças acontecerem
de fato, mudar a cultura, diagnosticar e construir as habilidades da
organização e desenvolver talentos por meio da empresa.
O senhor poderia citar algumas companhias que têm RHs
influenciadores de seus negócios? Ou seja, que fazem as coisas
acontecerem?
As companhias top em RH são conhecidas porque aplicam tudo isso que
falamos. Isso inclui (mas não se limita) as seguintes empresas: General
Electric, IBM, Procter & Gamble, Nokia, Unilever, McKinsey,
Medtronic, Icici, Tata, Royal Bank of Scotland, Wal Mart e British
Telecom.
Para concluir, o que o senhor espera do profissional de RH? Teremos boas histórias para contar no futuro?
Eu prevejo o RH exercendo impacto e entregando resultados para o
negócio. Eles vão contar mais histórias a respeito de como o
investimento em RH leva a uma melhor performance do negócio.
Fonte: Você RH
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