Deus, em sua infinita sabedoria, nos fez
possuidores de uma só boca e dois ouvidos, querendo com isso que
utilizássemos em dobro nossa capacidade de ouvir e nos habituássemos à
contenção de palavras inúteis e julgamentos inconvenientes.
Geralmente, quando estamos zangados,
expressamos juízos e conceitos dos quais muito nos arrependemos, quando a
calma sobrevém. Mas, muitas vezes, esse arrependimento não é suficiente
para remediarmos os danos causados nas outras pessoas.
Charles Chaplin cunhou uma frase que me
parece bastante apropriada para nos alertar sobre a armadilha do “falar
demais”: “Cuidado com as palavras pronunciadas em discussões e brigas
que revelem sentimentos e pensamentos que na realidade você não sente e
não pensa… pois, minutos depois, quando a raiva passar, você delas não
se lembrará mais… Porém, aquele a quem tais palavras foram dirigidas,
jamais as esquecerá…”.
Geralmente, reagimos com visível
desagrado a dicas e sugestões de pessoas que nos querem bem, visando
nossa melhoria íntima. São temas que nos parecem chatos e maçantes.
Certamente, se levadas em conta, muitas dessas palavras plenas de
sabedoria representariam mudança de conduta e o abandono de muitos
vícios.
Nem sempre o “falar demais” manifesta-se
nas horas de raiva. Muitas vezes, a tendência em falar mais da vida
alheia que dos valores que nos enriquecem a existência incentiva a
proliferação de boatos e fofocas.
Quando surge um colega trazendo
informações sobre as últimas novidades dos namoros, demissões e
problemas dos outros, o tempo que parecia não existir aparece, o cansaço
e a falta de paciência cedem imediatamente lugar ao interesse e à
curiosidade.
Como seria proveitoso se pudéssemos
dedicar esse mesmo interesse e atenção para ouvir e ajudar muitos amigos
que nos procuram para um diálogo saudável, muitas vezes com
inquietações e angústias e nós simplesmente não temos tempo e
sensibilidade suficientes para escutar.
Aliás, como é difícil para todas as
pessoas parar para escutar. Somos ávidos por falar; vivemos ansiosos
porque falamos muito e escutamos pouco ou quase nada. Nossa palavra
sempre deve ter o maior peso. Queremos ter sempre a primeira e a última
palavra.
Saber ouvir exige que façamos opção
consciente em apreender o que se passa com o outro, de forma solidária e
sem preconceitos, com o objetivo de buscarmos o entendimento.
O diálogo nem sempre é uma tarefa fácil,
pois envolve a disponibilidade para aprender novas idéias, quando antes
gostaríamos de ensinar; humildade para reconhecer que não somos
perfeitos e que não sabemos tudo a respeito de todos os assuntos e
admitir a coerência de fundamentos e idéias que não são nossos.
Ouvir é diferente do simples ato de
escutar. Escutar é o uso puro e simples do sentido da audição e só não
escuta quem é surdo. Ouvir é muito mais profundo pois envolve a pessoa
por inteiro e é um processo ativo, ao contrário do que a maioria das
pessoas pensa ser.
Exercitar a arte de ouvir o nosso
semelhante apura nossa sensibilidade, permitindo-nos romper a concha de
isolamento criada pelo individualismo – outra das características
negativas da nossa personalidade – e participar das experiências e
emoções das outras pessoas.
Ouvir é renunciar! É a mais alta forma
de altruísmo em tudo quanto essa palavra signifique de amor e atenção ao
próximo. Talvez por essa razão a maioria das pessoas ouça tão mal, ou
simplesmente não ouça. Vivemos imersos em cogitações pessoais e é raro
conseguirmos passar algum tempo sem pensar em nós mesmos.
Atitudes recorrentes daqueles que não sabem ouvir com atenção e paciência:
a) Responder antes que o interlocutor tenha concluído seu pensamento.
b) Ficar impaciente diante de pessoas tentando explicar algo.
c) Olhar insistentemente para o relógio, paralisando a comunicação do outro.
d) Usar expressões faciais de enfado, desaprovação, invalidação, menosprezo, diante do assunto.
e) Desviar o olhar do rosto da outra pessoa.
f) Mudar abruptamente de assunto.
g) Fazer com que o outro se cale, dizendo que não adiantaria nada ouvi-lo.
b) Ficar impaciente diante de pessoas tentando explicar algo.
c) Olhar insistentemente para o relógio, paralisando a comunicação do outro.
d) Usar expressões faciais de enfado, desaprovação, invalidação, menosprezo, diante do assunto.
e) Desviar o olhar do rosto da outra pessoa.
f) Mudar abruptamente de assunto.
g) Fazer com que o outro se cale, dizendo que não adiantaria nada ouvi-lo.
Para falar bem não basta uma boca. Há
muita gente que, não sabendo usá-la, tem feito um grande estrago com o
que diz. Antes de nos julgarmos incompreendidos e injustiçados pelo
mundo, não nos devemos esquecer que a causa dos nossos problemas e do
desencontro na relação com a outra pessoa pode estar alojada em nós
mesmos.
Saber ouvir leva tempo, prática e
paciência. É uma arte que mantém vivos o respeito, a afeição, a amizade,
o sentimento de confiança que o outro deposita em nós. Faz com que
nossos clientes, colegas de trabalho, filhos, cônjuges e namorados,
sintam-se como pessoas importantes e amigos privilegiados. Assuma, hoje
mesmo, um compromisso de falar menos e ouvir melhor.
Fonte: GFLM